
CFO Esclarece: Canetas emagrecedoras e os efeitos colaterais na saúde bucal
15/07/2025
Os medicamentos Ozempic e Wegovy, produzidos à base de semaglutida, são fármacos prescritos para tratamento do diabetes tipo 2. Mais recentemente passaram a ser amplamente utilizados para a perda de peso e tratamento da obesidade, tornando-se popularmente conhecidos como “canetas emagrecedoras”. Porém, assim como qualquer outro medicamento, os pacientes que os utilizam estão sujeitos a enfrentar efeitos colaterais indesejados, sendo comuns os relatos envolvendo impactos na saúde bucal.
Em razão do alto índice de pessoas que passaram a fazer uso das canetas emagrecedoras, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia e os 27 Conselhos Regionais de todo país, alerta para a importância do acompanhamento odontológico dos pacientes. A recomendação é que mantenham uma boa rotina de higiene bucal e visitas periódicas ao cirurgião-dentista de confiança, ou diante de qualquer alteração bucal adversa.
“É importante esclarecer que o uso do medicamento à base de semaglutida, por si só, não é determinante para o surgimento de problemas na cavidade oral. Isso vai depender de uma série de fatores, que podem incluir características fisiológicas ou comportamentais do paciente. O fundamental é que, ao fazer uso dessas drogas, a população entenda os riscos e tome os cuidados necessários”, destaca o conselheiro federal do CFO, Glaucio de Moraes e Silva, que é professor da disciplina de Farmacologia Clínica e membro do comitê gestor da Rede Brasileira de Centros e Serviços de Informação sobre Medicamentos (REBRACIM) do Ministério da Saúde.
Efeitos colaterais
Entre os efeitos colaterais mais frequentemente observados pelos usuários das canetas emagrecedoras à base de semaglutida está a xerostomia, caracterizada pela secura da boca. Esse quadro deixa a boca mais suscetível à proliferação bacteriana, uma vez que a saliva possui papel fundamental não apenas na hidratação da mucosa, mas também na neutralização dos ácidos que auxiliam na limpeza dos dentes e no equilíbrio do PH da cavidade oral.
O especialista, mestre e doutorando em Periodontia e professor universitário, Celso Oliveira de Sousa, que também atua no atendimento de pacientes com necessidades especiais no Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que a baixa produção de saliva, associada ao maior desenvolvimento de bactérias, pode aumentar o risco de desenvolvimento de problemas na cavidade oral.
“A sensação de boca seca ou xerostomia, em decorrência da hipossalivação, é um dos efeitos adversos mais relatados e, desta forma, podem surgir outros sintomas indesejados. A redução do fluxo salivar pode causar, por exemplo, quadros de halitose nestes pacientes, assim como o aumento do risco de cárie também pode ser esperado”, complementa Celso Oliveira.
O professor, mestre e especialista em Periodontia, Eduardo Sampaio, ressalta que entre os efeitos colaterais conhecidos do uso dessas medicações e que podem interferir na saúde bucal estão alterações no trato gastrointestinal que podem provocar náusea, indigestão, vômito e doença do refluxo gastroesofágico. Tais efeitos adversos constam das bulas dessas medicações, categorizados como “muito comum” ou “comum”.
“O perigo à saúde bucal está diretamente relacionado à acidez aumentada que esses efeitos gastrointestinais podem causar na cavidade bucal, levando à quadros de erosão dental. Se somarmos o aumento da acidez da boca, com a diminuição do fluxo salivar, teremos uma condição propícia para um deterioramento da saúde bucal, em um curto período”, destaca o professor Eduardo Sampaio.
Além disso, na bula do Wegovy a disgeusia, uma condição que causa distorção no paladar, é considerada um efeito adverso comum, observado principalmente no período de escalonamento de dose.
Mounjauro
Diferentemente do Ozempic e Wegovy, o medicamento Mounjaro, que também tem se popularizado entre as chamadas “canetas emagrecedoras”, tem como princípio ativo a tirzepatida. Entre os efeitos adversos relatados na bula, está o vômito, cujos episódios podem impactar a saúde bucal do paciente. Essa reação é considerada comum, com índice de incidência em até 10% dos pacientes. Além disso, entre as reações classificadas como incomuns, com ocorrência entre 0,1% e 1% dos pacientes, está a disgeusia (alteração no paladar).
Cuidados odontológicos
O cirurgião-dentista e professor Eduardo Sampaio ressalta que, antes de iniciar o uso das canetas emagrecedoras, idealmente os pacientes deveriam realizar um exame odontológico prévio, com a finalidade de identificar quaisquer fatores de risco. Além disso, durante a consulta, o cirurgião-dentista poderá fazer um reforço de instrução de higiene oral personalizada e oferecer orientações gerais sobre os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos.
“O cirurgião-dentista deverá indicar ao paciente a utilização de saliva artificial, caso apresente xerostomia, e também fazer a orientação de enxaguar a boca, ao invés de escovar os dentes, em caso de vômito. Para o paciente que apresentar a doença do refluxo gastroesofágico durante o uso dos medicamentos, é possível traçar uma estratégia preventiva personalizada”, aponta.
A importância do acompanhamento odontológico também é destacada pelo professor Celso Oliveira de Sousa. “São indicadas práticas de controle de biofilme, de forma profissional ou através do uso de escovas convencionais macias e interproximais, o uso de dentifrícios fluoretados, bem como o manejo desta hipossalivação, principalmente naqueles que utilizam este medicamento no contexto do tratamento off label, ou seja, para fins de emagrecimento e não do controle do diabetes”, afirma.
O conselheiro federal do CFO, Glaucio de Moraes e Silva, ainda pontua que o uso das medicações no contexto do emagrecimento é muito recente, havendo poucos estudos sobre os efeitos adversos de longo prazo. “Esses medicamentos são regulamentados e com venda autorizada no país. Mas, uma vez que ainda temos poucos subsídios clínicos sobre seus impactos na cavidade bucal, é muito importante que o paciente seja acompanhado por um profissional da Odontologia, que fará um atendimento preventivo e buscará minimizar os efeitos adversos”, conclui.
Fonte: CFO