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CFO Esclarece: Limpeza interdental remove resíduos que a escova tradicional não alcança

CFO Esclarece: Limpeza interdental remove resíduos que a escova tradicional não alcança

13/08/2025

Escovar os dentes após as refeições é um hábito que faz parte da rotina diária dos brasileiros, mas, muitas vezes, um cuidado essencial ainda é deixado de lado: a limpeza interdental. A higienização entre os dentes, feita por meio do uso de fio dental ou escovas interdentais, é uma aliada indispensável para combate a problemas bucais como mau hálito, lesões de cárie e gengivite, com consequente prevenção a doenças cardíacas.

O Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia e 27 Conselhos Regionais de todo país, reforça a mensagem de que a escovação interdental não deve ser negligenciada.

O secretário do CFO, Roberto de Sousa Pires, especialista em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Pará (UEPA), explica que a escovação dental não alcança áreas específicas entre os dentes e gengivas, onde os restos de alimentos se alojam com mais facilidade.  

“O acúmulo dos resíduos na boca ocorre pela escovação inadequada dos dentes, sendo que a falta de cuidados na limpeza dos espaços entre eles é fator agravante para o desenvolvimento do biofilme e da placa bacteriana. Por isso, a importância da higienização completa dos dentes, incluindo-se a limpeza interdental na rotina diária de cuidados orais”, esclarece o secretário do CFO.

Limpeza interdental: importância e indicação 
O cirurgião-dentista Camillo Anauate Netto, professor universitário e doutor em Odontologia pela USP (Universidade São Paulo), explica que 70% da placa bacteriana se deposita em áreas que a escovação normal consegue remover, ou seja, nas faces externas e de dentro dos dentes, linguais ou palatinas, embaixo ou em cima. Porém, a escova tradicional não consegue limpar entre os dentes e a superfície da língua, regiões que concentram em torno de 30% dos resíduos.

“Apesar de os espaços entre os dentes serem menores do que as faces externas, onde a escova alcança, todos possuem a mesma relevância na escovação. Porque essas áreas acumulam mais resíduos e são difíceis de higienizar, tecnicamente, principalmente se levarmos em consideração que estão todas muito próximas das gengivas. Então, apesar de a área interdental ser percentualmente menor, todas possuem a mesma importância”, esclarece Anauate Netto.

Dessa forma, a limpeza interdental é indicada para todas as pessoas que possuem espaços entre os dentes. Seja entre dentes naturais ou entre dentes naturais e coroas protéticas ou facetas laminadas. Essa importância aumenta ainda mais se o dente estiver restaurado, com uma faceta laminada de porcelana ou laminada direta, com uma coroa ou uma prótese sob implante, já que nesses casos há maior chances de acúmulos de resíduos em razão das emendas das restaurações.


Fio dental ou escova interdental?
Tradicionalmente, a limpeza do espaço interdental é feita com a utilização do fio dental, mais conhecido pela população em geral. Mas também há no mercado as escovas interdentais que, conforme explica o professor Camillo Anauate Netto, possuem a vantagem de maior facilidade na utilização. Isso não quer dizer que o fio dental seja contraindicado, mas que seu uso deve ser mais cuidadoso, uma vez que exige movimentos em maior número e mais complexos. 

“Desde 2020 a Federação Europeia de Periodontia (European Federation of Periodontology – EFP) tem trabalhos científicos que demonstram que a escova interdental é mais efetiva do que o fio dental. Elas têm um movimento muito mais simples de utilização. Ao invés de fazer o movimento composto de limpar com fio dental, enrolar no dedo, laçar o dente, sobe e desce, vai para outro espaço, sobe e desce, tira, muda o fio de comprimento, passa para outro espaço; a escova interdental só entra e sai, entra e sai”, explica o cirurgião-dentista.

Há diversos modelos de escovas interdentais disponíveis, sendo que as calibradas são mais indicadas por permitirem ajuste individualizado. Funciona da seguinte forma: o cirurgião-dentista utiliza um calibrador para medir o espaço entre os dentes do paciente e, dessa forma, recomendar uma escova sob medida. Essa calibração é importante pois, caso o paciente vier a comprar uma escova muito pequena, a limpeza não será eficiente; já se for muito grande, poderá machucar a papila gengival e provocar um espaço escuro entre os dentes, os chamados black spaces ou black triangles.


Como realizar a escovação diária dos dentes
A escovação deve ser feita após as refeições principais, com uso de escova de cabeça pequena e cerdas macias, além de creme dental fluoretado (mínimo de 1.100 ppm). É indicado que o paciente use a técnica de Bass ou a técnica de Bass modificada, que consiste em movimentos vibratórios dente a dente, complementados com uma varredura no sentido dos bordos dos dentes. 

Outro fator importante que deve ser incorporado à rotina diária é a higienização da língua, que muitas vezes é ignorada ou realizada de maneira incorreta com a própria escova dental. Ela também deve ser feita pelo menos uma vez ao dia, com uso de raspadores e escovas especiais para esse fim (que são circulares, de perfil baixo e com cerdas capazes de entrar nos espaços entre as papilas linguais com mais facilidade). 

Já para a limpeza interdental, o paciente pode optar pelo fio dental ou escova interdental, de acordo com o que se sentir mais confortável. A limpeza do espaço interdental deve ser feita ao menos uma vez ao dia, preferencialmente junto com a escovação mais importante, aquela feita à noite, antes de se deitar. Isso porque durante o sono há redução na produção da saliva, responsável pela limpeza e neutralização do Ph da boca. Se durante esse período houver resíduos de alimentos na boca, eles podem fermentar e formar a placa bacteriana.


Limpeza interdental é sinônimo de saúde
Entre os principais problemas acarretados por maus hábitos de higienização interdental está a inflamação das gengivas. Em um primeiro momento, a placa bacteriana estimula mecanicamente e, em seguida, quimicamente a gengiva e, assim deflagra o processo de doença gengival, cujos primeiros sintomas são o aspecto de inchaço e sangramentos. 

Estudos recentes mostram uma relação entre doença periodontal, doença cardiovascular e outras doenças crônicas – cujo elo comum é a inflamação. A presença de doenças periodontais pode estar associada a ataques cardíacos, derrames, doenças renais, diabetes, partos prematuros e complicações em próteses articulares.

Dados do Instituto do Coração (InCor) apontam que até 45% das doenças cardíacas podem ter relação com infecções na cavidade bucal, entre elas a periodontite, inflamação que afeta os tecidos que suportam os dentes, incluindo a gengiva, os ligamentos periodontais e o osso alveolar.

“A higiene bucal é fator fundamental para prevenção das infecções orais, sendo a limpeza interdental muito importante nesse processo. Na prática, podemos afirmar que uma rotina adequada de limpeza bucal pode prevenir complicações que levam a doenças graves, sendo sinônimo de saúde e qualidade de vida”, conclui o secretário do CFO, Roberto de Sousa Pires.